E chega um dia que a gente tem que crescer. Crescer não só no tamanho mas, principalmente, dentro da gente. Esse crescer traz com ele um outro tempo: o tempo de ser gente grande. Ser gente grande significa que a maior parte das coisas que você fazia antes, não poderá fazer mais. É uma fase que exige responsabilidade e independência. Provavelmente, você não contará mais com o colo da mãe nas horas que você mais precisar. As dores de amor deixam de ser mais cinematográficas para serem mais reais. As cicatrizes vão ficando cada vez mais profundas. As ligações cada vez mais superficiais. Ser gente grande significa contar só com você mesmo para conseguir o que quer. Seus problemas serão maiores que enfrentar um boletim vermelho. Suas afirmações e gestos perdem a inexperiência e passam a ter peso e conseqüência para outras pessoas. Fazer manha já não tem mais o mesmo efeito e certamente o tornará ridículo ou “infantil”. Ser gente grande é tão difícil que existe um monte de pessoas tentando adiar essa hora esquecendo que o tempo é inexorável, não espera por ninguém. Outras não conseguem administrar a ideia e vestem a carapuça da idade sem deixar espaço para a criança que foi. Ser adulto nos torna aptos a muitos assuntos proibidos e que ambicionamos quando pequenos. Mas quando se torna uma pessoa grande, a matemática de perdas e ganhos se torna mais clara (e menos aceitável). Ganha-se autonomia e perde-se uma das melhores fases da vida (que passa a ser boas lembranças). Em alguns casos, perde-se o melhor amigo, a turma da infância que, assim como você, cresceu e foi seguir sua vida. Perde-se o carinho divertido com a família. Ganha lugar um amor de adulto-para- adulto. Você ganha a liberdade de ter pensamentos calculados mas perde a inocência e simplicidade que só quando se é pequeno tem. Abre-se uma conta no banco e com ela abre-se mão dos seus brinquedos, da ciranda. Eu não queria crescer. Não queria ter que assumir por minha conta o controle da minha vida. Tenho medo desse tempo que passa levando com ele a elasticidade da minha pele e para cada vez mais distante minha época de criança.
Sei que dentro de mim, ainda não decidi se quero ser menina ou mulher (apesar de não ser uma opção). Minha vontade é de que pudesse haver um meio termo. Essa vontade também vai passar daqui algum tempo. Isso se chama maturidade. Uma coisa maior que ser gente grande. É a maturidade quem vai levar embora a dor de não ser mais criança. É ela quem vai, finalmente, me fazer aceitar que não posso mais deixar a vida me levar e que, obrigatoriamente, eu mesma devo conduzi-la.
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