14 de junho de 2010

- sobre fins e (re)começos

Existem duas dores de amor: A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão embrulhados na dor que não conseguimos ver luz no fim do túnel. A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel. A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar "desimportante" para o ser amado. Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também. Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se lembrança de uma época bonita que foi vivida. Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente, e que só com muito esforço é possível alforriar. É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’ propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”. Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância . Mas, que precisa também sair de dentro da gente. E só então voltaremos a ser livres e poderemos amar, de novo.
"É tão curto o amor, tão longo o esquecimento"
(Pablo Neruda)
Escrevi esse texto há um tempo atrás, mas precisava postar, depois de uma conversa que tive na van hoje. Tudo é relativo.

2 comentários:

  1. Guilherme Emmendoerfer17 de junho de 2010 às 09:54

    Oh yes, concordo totalmente, já que não tem sensação melhor do que você nos bons e principalmente nos maus momentos ter um porto seguro, e quando você não ama ninguém fica refém de se sentir extremamente solitário em um momento difícil.

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  2. Demais!!! Vc escreve com a alma!!

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